Autor: Edson Rechi (Janeiro/2010 – Atualização Novembro/2015)
* Artigo publicado originalmente na revista Bioaquaria Europeia
Introdução
Peixes primitivos são peixes pré-históricos, cujas certas espécies sobrevivem até aos dias de hoje mantendo suas características praticamente inalteradas, sendo considerados verdadeiros fósseis vivos. Contudo, para conhecermos melhor as espécies de peixes primitivos, torna-se necessário compreendermos melhor a evolução dos peixes e como são classificados atualmente.
Um pouco de história e evolução
Os primeiros peixes apareceram no período Cambriano há cerca de 510 milhões de anos atrás. Estes peixes ancestrais não possuíam mandíbulas, eram bentônicos, pertencentes à Classe Agnatha, semelhantes às lampreias atuais e, hoje em dia, são representados pelas próprias lampreias e peixes-bruxa.
Com a evolução da mandíbula e apêndices pares, os peixes tornaram-se mais ativos, sendo capazes de se alimentarem de inúmeras formas. Nesta evolução, surgiram os primeiros peixes cartilagíneos, no período Siluriano, cerca de 400 milhões de anos atrás. Atualmente, os peixes cartilagíneos (Classe Chondrichthyes) são representados pelos tubarões, raias marinhas e esturjões anádromos.
Mais recentemente, à cerca de 250 milhões de anos, surgiram os primeiros peixes com esqueleto ósseo. Nos dias atuais a grande maioria das espécies de peixes no mundo pertence a este grupo (Classe Osteichthyes) que, por sua vez, se dividem em dois grupos: os Sarcopterygii, peixes com barbatanas lobadas, como o celacanto e os peixes pulmonados, e os Actinopterygii, os restantes grupos de peixes conhecidos ainda como teleósteos.
Portanto, a classificação dos peixes é dividida em três grandes classes: Agnatha, Chondricthyes (tubarões e raias) e Osteichthyes (peixes pulmonados e teleósteos).
A classe Agnatha apresenta algumas características como: mandíbulas ausentes, barbatanas pares ausentes na maioria das espécies, partes internas do esqueleto cartilaginosas e olho pineal e fotossensível presente, com apenas uma narina localizada à frente do olho pineal.
A Classe Chondrichthyes possui, entre diversas características, mandíbulas e barbatanas pares, partes internas do esqueleto totalmente cartilaginosas, ausência de olho pineal, pulmão ou bexiga natatória, a maioria das espécies apresenta uma cauda heterocerca, narinas pares e cinco pares de fossas branquiais, que se abrem independentemente na maioria das espécies.
A Classe Osteichthyes no geral apresenta escamas ósseas, parte interna do esqueleto sempre com alguma ossificação, olho pineal presente em espécies primitivas, pulmões presentes em algumas espécies e vesícula natatória presente em quase todas elas, cauda homocerca na maioria das espécies, brânquias com ligação a uma câmara comum coberta por um opérculo, não apresentam a válvula espiral do intestino excepto em espécies primitivas e a maioria das espécies é ovípara com fecundação externa.
Atualmente, os cientistas defendem que os vertebrados tiveram origem no meio marinho, porém o nível de salinidade do mar primitivo possuía um nível bem menor que o atual. Acredita-se que, à cerca de 400 milhões de anos, os principais grupos de peixes penetraram os estuários e rios de água doce, sofrendo adaptações necessárias para a sua sobrevivência num ambiente onde a salinidade era bem inferior ou nula. Duzentos milhões de anos mais tarde, diversos peixes ósseos e elasmobrânquios regressaram aos mares, tendo novamente que sofrer adaptações a um meio ambiente cuja água já possuía uma salinidade muito maior que a anterior.
Conclui-se então que, através deste processo evolutivo, originou-se a grande maioria das espécies tetrápodes atuais, descendentes diretos dos sarcopterígeos.
Quem são os peixes primitivos
Neste artigo nos reservaremos principalmente aos peixes da classe Osteichthyes (osteos = osso, e ichthyos = peixe) que agrupa os peixes ósseos. Esta classe engloba todos os animais com tecido ósseo endocôndrico com dentes implantados nas maxilas. Uma das características mais importantes dos Osteichthyes é o osso esponjoso (endrocôndrico), que nada mais é que um tecido ossificado internamente em substituição da cartilagem. O seu sistema circulatório invade a matriz cartilaginosa, permitindo aos osteoblastos uma melhor alimentação e também o recrutamento de osteoblastos adicionais. Os osteócitos têm um papel fundamental na manutenção da integridade da matriz óssea.
Atualmente, como já foi dito, esta classe inclui duas sub-classes: Sarcopterygii (celacantos e pulmonados) e Actinopterygii (teleósteos).
Sub-classe Sarcopterygii – peixes de barbatanas lobadas, como o celacanto e os peixes pulmonados (dipnóicos), que formam os antepassados dos anfíbios. Possuem barbatanas lobuladas aos pares e carnosas, sustentadas por um esqueleto ósseo, enquanto que nos actinopterígeos (Actinopterygii) são sustentadas por raios. Classificam-se em dois grupos: celacantos e dipnóicos.
Os celacantos são verdadeiros fósseis vivos, apresentando nadadeiras pares (peitoral e pélvicas), cujas bases são semelhantes à dos vertebrados terrestres que se movem. Eram fósseis indicadores até meados de 1938, quando foi encontrado o primeiro espécime vivo na costa leste africana. São encontrados na costa oriental da África do Sul, Ilhas Comores e Indonésia. Acreditava-se que o celacanto seria um parente próximo do primeiro vertebrado a sair da água, originando um novo grupo de vertebrados que acabou por resultar nos tetrápodes, incluindo o Homo sapiens, mas estudos recentes indicam não ter nenhuma influência nesta evolução.
Os dipnóicos (dipnoi) são peixes pulmonados que pertencem à classe de peixes ósseos, portadores de vesícula natatória adaptada para a respiração aérea. São encontrados exclusivamente em ambientes dulcícolas, possuindo uma forma alongada. Possuem pulmões e sistema circulatório diferente dos peixes modernos, como os ciclídeos, peixes gato e outros, sendo por isso considerados ancestrais dos tetrápodes. A sua respiração ocorre através do pulmão, que não possui brônquios, extraindo oxigênio diretamente do ar atmosférico. Este órgão é ímpar no gênero Neoceratodus, enquanto nos gêneros Lepidosiren e Protepterus é um órgão bipolado.
Sub-classe Actinopterygii – São todos os restantes peixes, como os comuns ciclídeos, entre outras famílias, conhecidos como teleósteos. Possuem nadadeiras suportadas por raios com esqueleto calcificado e um opérculo ósseo que protege as aberturas branquiais. Engloba mais de 27.000 espécies espalhadas pelo mundo.
A seguir, vou aprofundar um pouco, sobre as espécies de peixes primitivos dulciaquícolas e estuarinos e sua manutenção em aquário.
Dipnóicos (Ceratodontiformes e Lepidosireniformes)
Também conhecidos como dipnoicos, dipnoi, dipneusti ou simplesmente peixes pulmonados (lungfish em inglês), são peixes ósseos portadores de vesícula natatória adaptada à função de respiração aérea. A sua principal característica é a existência de um pulmão como órgão primário de respiração, tendo capacidade de retirar oxigênio directamente do ar atmosférico. Eram comuns no período Devoniano, porém a sua maioria desapareceu no final da era Paleozóica. Atualmente existem quatro gêneros; três dipnóicos e um não dipnóico (Latimeria chalumnae).
Estes peixes representam um grande marco evolutivo do planeta, deram origem aos tetrápodes e ao início do estabelecimento da vida dos vertebrados no meio terrestre. Acredita-se que havia um grande número de plantas e invertebrados terrestres livres de predadores naturais e, para se aproveitarem da situação, alguns peixes sofreram alterações na sua vesícula natatória, alterando a sua estrutura interna, surgindo os primeiros pulmões verdadeiros. Nesta evolução, ocorreu a primeira saída dos vertebrados do ambiente aquático para o ambiente terrestre.
Esta estrutura não é encontrada em nenhuma outra espécie aquática, excepto em Polypterus e Crossopterygii. Para além deste passo evolutivo, as estruturas ósseas e musculares da cabeça sofreram alterações; os ossos foram enrijecidos e os músculos desenvolveram-se para facilitar uma respiração direta do oxigênio. Através deste processo, os dipnóicos desenvolveram a sua própria solução para captação de ar, mesmo em ambientes desfavoráveis como o terrestre, podendo viver bastante tempo fora de água, especificamente em ambientes lamacentos, onde se enterram, respirando por orifícios que são abertos propositadamente para a comunicação com a atmosfera. O seu olfacto é muito desenvolvido, em detrimento da sua ineficaz visão, usada secundariamente. Outro marco evolutivo está relacionado com as nadadeiras lobadas, dotadas de ossos e musculaturas próprias.
Existem diversos registos fósseis destas espécies, incluindo inúmeros marinhos. Hoje em dia, são representados por apenas três famílias (Ceratondidae, Lepidosirenidae e Protopteridae) que, ao longo de anos, mantiveram as suas características. Mais detalhes das famílias a seguir:
Família Ceratondidae: possui apenas um único representante (Neoceratodus forsteri), conhecido popularmente como peixe-pulmonado australiano. Possui apenas um pulmão funcional, câmeras branquiais grandes que agem como um órgão secundário de respiração. Podem alcançar cerca de 170 cm e pesar em torno de 40 Kg. É uma espécie demersal e potamódroma que vive exclusivamente em água doce. Está distribuída pelo sul de Queensland (Austrália), no Rio Maria Burnett, e foi introduzido com sucesso a sudeste do mesmo local. Costuma habitar rios lênticos ou regiões lamacentas, podendo ser encontrado repousando sob rochas ou à beira do rio. Durante períodos de seca, tolera a estagnação mas, contrariamente às outras espécies de pulmonados, por menos tempo. A sua dieta é bem diversificada, alimentando-se de rãs, girinos, peixes, camarões, minhocas, caracóis, plantas e frutos caído de árvores ribeiras, através dos seus eletro-receptores para capturar suas presas. É um peixe extremamente agressivo.
Família Lepidosirenidae: também possui apenas uma única espécie (Lepidosiren paradoxa), conhecida popularmente no Brasil como Pirambóia ou peixe pulmonado sul americano. Pode atingir cerca de 120 cm e é a espécie mais pacífica entre os pulmonados, podendo ser encontrado no Amazonas, Paraguai e bacia do Paraná (Brasil). Habita águas estagnadas e lênticas e alimenta-se de caracóis, vertebrados aquáticos e algas. Durante o período seco, enterra-se na lama, captando ar através dos seus dois pulmões, reduzindo o seu metabolismo, podendo sobreviver por longos períodos sob esta condição.
Nome Científico
|
Tamanho
|
pH/Dureza
|
Ambiente
|
Clima
|
Distribuição
|
Lepidosiren
paradoxa |
125 cm
|
6,0 – 7,0
Mole / Média |
Demersal
Água-doce |
Sub-tropical
22º – 28ºC |
América do Sul; Amazonas, Paraguai e Bacia do Paraná
|
Protopterus
aethiopicus |
200 cm
|
6,0 – 8,0
Indiferente |
Demersal
Água-doce |
Tropical
24º – 30ºC |
África: Rio Nilo, Lagos Albert, Victoria, Tanganyika e Kyoga
|
Protopterus
amphibius |
45 cm
|
6,0 – 8,0
Indiferente |
Demersal
Água-doce |
Tropical
24º – 30ºC |
Costa Oriental da África; Somália, Quénia e delta do Rio Zambesi
|
Protopterus
annectens |
100 cm
|
6,0 – 8,0
Indiferente |
Demersal
Potamódromo Água-doce |
Tropical
24º – 30ºC |
África: Senegal, Niger, Zambia
|
Protopterus
dolloi |
130 cm
|
6,0 – 8,0
Indiferente |
Demersal
Água-doce |
Tropical
24º – 30ºC |
África: Ogowe, Kouilou, Niari, médio e baixo Congo
|
Neoceratodus forsteri
|
170 cm
|
6,0 – 8,0
Indiferente |
Demersal
Potamódromo Água-doce |
Tropical
24º – 30ºC |
Oceania: Sul de Queensland (Austrália); Rio Maria Burnett
|
Família Protopteridae: são representados por quatro espécies africanas (raramente à venda em lojas), possuem colorações mais chamativas, comparativamente aos seus primos sul-americano e australiano, e costumam ser agressivos. Indicarei, brevemente, apenas duas espécies:
Protopterus annectens – é a mais comum, distribuindo-se por quase todo o continente africano em diversos habitats (pântanos e águas negras), podendo mesmo ser encontrado nos grandes lagos (Rift Lakes), local notoriamente conhecido como reduto dos mais belos ciclídeos africanos. Atinge cerca de 100 cm e pode sobreviver por mais de três anos sem se alimentar. A sua dieta é basicamente carnívora, podendo, eventualmente, alimentar-se de sementes e raízes.
Protopterus dollloi – popularmente conhecido como slender lungfish, é outra espécie difundida, cuja distribuição se concentra na bacia hidrográfica do Congo. Pode atingir cerca de 130 cm e a sua alimentação baseia-se em peixes e insectos, excepto na época de reprodução, onde o consumo vegetal é maior.
Habita regiões pantanosas e águas estagnadas, incluindo riachos e pequenos afluentes. Muitos destes ambientes são carente de oxigênio e por vezes desprovidos até mesmo de água durante período de seca. É nesta época que abandona sua respiração branquial, se enterra na lama em profundidas que variam entre 30 cm e 50 cm, passando a respirar por meio de sua bexiga natatória (dois pulmões sem brônquios). Ao se enterrar na lama veda a entrada com argila e deixa somente dois ou três buracos para a areação. Registros indicam que pulmonados africanos foram encontrados sob esta condição por até dois anos.
Bichirs (Polypteriformes)
A denominação bichir vem de um dialeto derivado do árabe, sendo dada pelos africanos aos estranhos seres parecidos com dragões que habitavam as margens do Rio Nilo. Embora tenham aparência agressiva, são peixes extremamente pacíficos.
Também são conhecidos como Polypterus, pertencendo à família Polypteridae que representa um pequeno grupo de peixes primitivos tropicais de África. A sua principal característica é a forma alongada, semelhante a uma serpente, com duas fortes nadadeiras peitorais em forma de pá que lhes permite sair da água e rastejar à procura de uma nova morada. Esta adaptação deve-se ao fato de o seu ambiente possuir um baixo nível de oxigênio dissolvido, sendo extremamente útil em situações de seca, permitindo a sua migração para novos locais. Todas as espécies de Polypteriformes são demersais.
Os raios da nadadeira dorsal são independentes, embora ligados à mesma nadadeira, e visíveis, formando pequenos espinhos em número variável(entre 8 e 18), cada um ligado independentemente a uma coluna vertebral. Estes espinhos formam assim uma verdadeira armadura que os protege dos predadores. Apenas bichirs, esturjões e gars apresentam este tipo de escama.
A origem dos Polypteriformes data do período Cretáceo, há mais de 60 milhões de anos. Existem apenas dois gêneros, tendo o gênero Erpetoichthys apenas uma espécie (Erpetoichthys calabaricus) e o gênero Polypterus abarcando 18 espécies e sub-espécies. Vivem principalmente no Rio Nilo e demais lagos e rios africanos, principalmente no Zaire.
São peixes que crescem bastante; algumas espécies podem chegar próximo dos 90 cm, enquanto outras raramente excedem os 50 cm. Embora excelentes predadores oportunistas são peixes bastante pacíficos, podendo ser mantidos com peixes de médio ou grande porte também pacíficos. Evite inseri-los com ciclídeos agressivos ou snakeheads, por exemplo.
Muitos aquariofilistas referem que estes peixes possuem pulmões. Embora possuam uma certa descendência direta dos dipnóicos, não possuem pulmões mas sim vesícula natatória dupla bastante vascularizada, tendo sempre um lado maior que o outro, sendo que o maior ocupa toda a extensão da cavidade abdominal, enquanto a outra parte é menor permitindo acomodar o estômago e intestino do peixe. Obrigatoriamente, retiram o oxigênio através da respiração aérea, não sobrevivendo apenas do oxigênio retirado da água. Logo se lhe for negado subir a superfície para respirar, morrerá afogado.
Possuem órgão acessório respiratório ligado ao intestino delgado, que lhes permite a respiração aérea, podendo frequentar locais lamacentos no período noturno à procura de alimentos ou até mesmo podendo vir à tona na extremidade da vegetação, voltando para a água quando perturbado. A sua visão é pouco eficiente, obrigando principalmente à utilização do olfato para localizar os alimentos.
A sua alimentação é bem variada entre carnívoros e insectívoros, embora eventualmente possam comer sementes.
Manter estas espécies em aquário não é difícil desde que, como com qualquer peixe, tenha cuidados básicos na sua manutenção. São peixes que, se bem cuidados, vivem dezenas de anos.
Nome Científico
|
Tamanho
|
pH/Dureza
|
Ambiente
|
Clima
|
Distribuição
|
Erpetoichthys calabaricus
|
90 cm
|
6,0 – 8,0
5 – 19 |
Demersal
Água doce e Estuarina |
Sub-tropical
22º – 28ºC |
Oeste Africano
|
Polypterus
ansorgii |
28 cm
|
6,0 – 8,0
Indiferente |
Demersal
Água doce |
Sub-tropical
24º – 28ºC |
África: a partir do Rio Corbal na Guiné-Bissau, bacia do Niger e rios da Nigéria
|
Polypterus
bichir |
70 cm
|
6,0 – 8,0
Indiferente |
Demersal, Potamódromos
Água doce |
Sub-tropical
24º – 28ºC |
África: Rio Nilo,
Lago Turkana e Rio Omo |
Polypterus
delhezi |
45 cm
|
6,0 – 8,0
Indiferente |
Demersal
Água doce |
Sub-tropical
24º – 28ºC |
África: Bacia central
do Rio Congo |
Polypterus
endlicheri |
60 cm
|
6,0 – 8,0
Indiferente |
Demersal, Potamódromos
Água doce |
Sub-tropical
24º – 28ºC |
África: Rio Nilo, Bacia de Chad, Rio Niger,
Rio Bandama |
Polypterus
ornatipinnis |
60 cm
|
6,0 – 8,0
Indiferente |
Demersal
Água-doce |
Sub-tropical
24º – 28ºC |
África: Rio Congo, Lago Rukwa e Lago Tanganyika
|
Polypterus
retropinnis |
30 cm
|
6,0 – 8,0
Indiferente |
Demersal
Água-doce |
Sub-tropical
24º – 28ºC |
África: Rio Congo e
Rio Ogooué |
Polypterus
senegalus |
40 cm
|
6,0 – 8,0
5 – 19 |
Demersal, Potamódromos
Água-doce |
Sub-tropical
24º – 28ºC |
África: Oeste Africano,
Bacia do Nilo |
Bonytongues (Osteoglossiformes)
Grupo composto por apenas duas espécies, o bonytongue neotropical (Arapaima gigas) e o bonytongue africano (Heterotis niloticus). Estas duas espécies antigamente estavam classificadas na família Osteoglossidae (família das Aruanãs), sendo a correta classificação a de Arapaimidae.
O Arapaima gigas, conhecido no Brasil como Pirarucu, é de longe o maior peixe de água doce da América do Sul, chegando a medir cerca de 300 cm e a pesar 250 Kg, embora existam relatos de que poderiam variar o seu tamanho entre os 390 e os 450 cm, sendo considerado por muitos como o maior peixe de água doce do mundo. Esta espécie vive nos rios, lagos e várzeas da Bacia Amazónica, preferindo águas claras e lênticas.
As suas características ecológicas e biológicas são bem distintas, possuindo cabeça achatada e ossificada com um corpo longo e escamoso, dois aparelhos respiratórios, brânquias para respiração aquática e vesícula natatória modificada como um pulmão, para funcionar no exercício de respiração aérea. Utilizam o pseudo-pulmão para respiração aérea principalmente durante épocas de seca ou quando procuram ambientes calmos para acasalamento e posterior reprodução, nomeadamente em época de enchentes.
Embora seja um peixe resistente, é bem vulnerável às ações de pescadores que, na maioria das vezes, agem aproveitando a necessidade fisiológica da espécie de emergir e respirar em intervalos menores na época da reprodução e cuidados parentais. Em geral, a espécie obtém cerca de 80% do oxigênio através dos pulmões, tendo que subir em média a cada 20 minutos para praticar a respiração aérea. É neste momento que pescadores aproveitam para a captura.
São peixes que apresentam uma longa fase de imaturidade sexual, podendo levar anos até que o macho esteja apto para a reprodução. Unindo a captura por pescadores de espécimes machos e a longa imaturidade sexual, propiciando a captura destes por predadores naturais como as piranhas, o seu sucesso reprodutivo é diminuto. Devido à pesca predatória, o pirarucu está na lista das espécies que vem diminuindo de ano para ano, embora não figure ainda na lista vermelha.
A sua carne, conhecida como bacalhau brasileiro, é muito apreciada por habitantes locais e estrangeiros. Embora a comercialização da carne seja permitida somente com autorização do órgão local (IBAMA) a criadores autorizados ou manejo racional, a maior parte vem da pesca clandestina. Não só a carne é aproveitada nesta espécie como a língua óssea (algo comum nesta família) é vendida como artesanato, servindo como bastão para ralar guaraná, e as escamas são usadas como lima para unhas, confecção de brincos, lustres, bolsas e calçado.
São peixes carnívoros e o seu tamanho vantajoso confere-lhes grande vantagem frente a outros predadores de respeito. Normalmente a presa não é despedaçada mas sim engolida por inteiro e raramente persegue a presa, caçando sempre por emboscada.
O parente mais próximo está a milhas de distância. Trata-se do africano Heterotis niloticus, natural do Rio Nilo. Uma curiosidade acerca das duas espécies em causa é que a nascente do Rio Nilo fica na mesma latitude da Bacia Amazônica, indicando que o seu parentesco ocorreu na Pangeia, há cerca de 200 milhões de anos atrás, quando os continentes se encontravam ligados.
O Heterotis, também conhecido como Aruanã africana, chega próximo dos 100 cm e pode pesar 10 Kg. Os juvenis desta espécie são encontrados em locais paludícolas entre a vegetação aquática, enquanto os adultos vivem em águas abertas de rios e lagos, sendo encontrados principalmente em zonas pelágicas e litorâneas. Assim como o Pirarucu, possui órgãos branquiais auxiliares, permitindo a sua sobrevivência em águas com baixo nível de oxigênio dissolvido. Por exercerem a respiração aérea, são ótimos saltadores, ao contrário do seu primo neotropical.
Possui o corpo alongado com as nadadeiras dorsal e anal ocupando 1/3 do seu corpo, escamas grandes e cabeça coberta por placas ósseas. Apesar de possuir aparência agressiva, alimenta-se principalmente de plânton (é um filtrador), sendo o único planctívoro da ordem Osteoglossiformes, podendo secundariamente alimentar-se de pequenos peixes, insectos e vermes.
Nome Científico
|
Tamanho
|
pH/Dureza
|
Ambiente
|
Clima
|
Distribuição
|
Arapaima
gigas |
450 cm
|
5,5 – 6,5
Mole |
Demersal
Água-doce |
Sub-tropical
25º – 30ºC |
América do Sul:
Rios Amazônicos |
Heterotis
niloticus |
100 cm
|
6,0 – 8,0
Indiferente |
Demersal
Água-doce |
Sub-tropical
25º – 30ºC |
África:
Nativas de todas as bacias hidrográficas da região Sahelo-sudanesas, Senegal, Gâmbia, Corubal, Volta, Ouémé, Níger, Bénoue, Chade e bacias do Nilo e do Lago Turkana |
Gars (Lepisosteiformes)
Gar ou Garpike, como são conhecidos popularmente, são peixes primitivos dos gêneros Lepisosteus e Atractosteus. São peixes que habitam ambientes dulcícolas e salobros no Leste da América do Norte e América Central, podendo ser ocasionalmente encontrados em ambiente marinho (Atractosteus tristoechus). Gar, em tradução livre, significa “lança” e data do período Permiano.
Estão divididos em apenas dois gêneros (Atractosteus e Lepisosteus) contendo 7 espécies. Gars do género Atractosteus são similares a jacarés, sendo maiores, mais largos e possuindo a boca maior que os Lepisosteus, que possuem boca em forma de bico e corpo mais fino.
Embora encontrados apenas na América do Norte, foram encontrados registos fósseis também na Europa, indicando que estes peixes tiveram uma distribuição muito mais ampla que a atual. A sua relação está intimamente ligada ao também peixe primitivo bowfin.
A característica mais primitiva é a dura armadura, à volta do seu corpo, formada por escamas ganoides . Possuem ainda vesícula natatória ligada diretamente à faringe, podendo funcionar como um pulmão, proporcionando a estes peixes a possibilidade de habitarem ambientes com baixo nível de oxigênio dissolvido, ou até mesmo águas poluídas, retirando oxigênio diretamente da atmosfera. Possuem mandíbulas longas com dentes afiados, cauda heterocercal e barbatanas dorsais próximas à cauda.
Todas as espécies de Gars chegam a tamanhos consideráveis, podendo atingir 300 cm, como o gar jacaré, e até mesmo o menor deles atinge cerca de 60 cm. São peixes que normalmente habitam ambientes de água lêntica, preferindo sempre nadar próximo à superfície dos rios e lagos, em pequenos grupos. Crescem de forma relativamente rápida, chegando a determinado patamar em poucos anos e a partir daí crescendo lentamente.
Na fase jovem são extremamente frágeis, podendo ferir-se facilmente e comprometer a sua estrutura corporal. Portanto, evite deixar o aquário em locais movimentados, sobretudo quando juvenis ou ainda inseri-los em aquários pequenos ou com excessiva movimentação de água. Predadores vorazes, capturam as suas presas oportunamente utilizando a sua poderosa dentição, mas no geral são pacíficos podendo conviver com peixes de grande porte e também pacíficos, desde que não caibam na sua boca.
Nome Científico
|
Tamanho
|
pH/Dureza
|
Ambiente
|
Clima
|
Distribuição
|
Atractosteus spatula
|
300 cm
|
7,0 – 8,0
Indiferente |
Demersal
Água doce e Estuarina |
Sub-tropical
22º – 28ºC |
América do Norte:
Rio Mississipi, Sul e Costa do Golfo do México
|
Atractosteus
tristoechus |
200 cm
|
6,0 – 8,0
Indiferente |
Demersal
Água doce |
Sub-tropical
22º – 28ºC |
América Central:
Cuba Ocidental e Ilha da Juventude
|
Atractosteus tropicus
|
125 cm
|
6,0 – 8,0
Indiferente |
Demersal,
Água doce |
Sub-tropical
22º – 28ºC |
América Central:
Caribe e México Meridional |
Lepisosteus
oculatus |
150 cm
|
7,0 – 8,0
10-15 |
Demersal
Água doce e Estuarina |
Temperado
12º – 20ºC |
América do Norte:
Lago Erie e Lago Michigan, Rio Mississipi
|
Lepisosteus
osseus |
200 cm
|
7,0 – 8,0
10-15 |
Demersal,
Água doce e Estuarina |
Temperado
12º – 20ºC |
América do Norte e Central. Costa de Quebec ao norte
do México |
Lepisosteus
platostomus |
88 cm
|
6,0 – 8,0
Indiferente |
Demersal
Água-doce |
Temperado
10º – 20ºC |
América do Norte:
Rio Mississipi e bacia central de Ohio
|
Lepisosteus
platyrhincus |
130 cm
|
6,0 – 8,0
Indiferente |
Demersal
Água-doce |
Sub-tropical
22º – 28ºC |
América do Norte:
Rio Savannah e em toda península de Flórida
|
Bowfin (Amiiformes)
Bowfin (Amia calva) é o nome dado à única espécie sobrevivente da ordem Amiiformes. Outras espécies desta ordem são conhecidas através de fósseis, tendo vivido nos períodos Jurássico e Cretáceo, incluindo o maior peixe que alguma vez existiu (Leedsichthys). O Bowfin e os Gars (parentes próximos) são as espécies que praticamente não sofreram nenhuma alteração na sua estrutura desde o seu surgimento até os dias de hoje.
Uma característica marcante do bowfin é a longa nadadeira dorsal que possui entre 45 e 50 raios e a nadadeira caudal heterocercal, ou seja, a nadadeira caudal estende-se até ao final da coluna vertebral. Outra característica é a mancha negra na base da cauda próxima da nadadeira dorsal. Possui uma cabeça relativamente grande, com dois barbilhões próximos do nariz. Verifica-se frequentemente a existência de uma mancha negra na base da cauda perto da borda dorsal.
Podem chegar a atingir 100 cm, podendo pesar cerca de 7 Kg, e apesar deste tamanho todo a carne não é apreciada para consumo humano. Considerado peixe de pesca desportiva, pode oferecer uma tremenda luta ao pescador, não sendo recomendado para pescadores amadores. Possui dentes bastante afiados e alimenta-se de praticamente tudo o que aparece à sua frente, desde peixes até insectos e rãs, incluindo belas mordidelas em pescadores desavisados, possuindo enorme apetite quando comparado a outras espécies do mesmo porte.
A sua distribuição é restrita à América do Norte, cobrindo a maioria da Bacia do Mississípi, estendendo-se para leste ao longo da Costa do Golfo e península da Florida. Habita águas de baixa movimentação e lagos. Em épocas em que o oxigênio dissolvido na água baixa drasticamente, esta espécie pode subir à superfície para respirar, enchendo a vesícula natatória de ar e funcionando com um pulmão. Preferem águas com temperaturas baixas, em torno dos 20ºC, embora se adapte sem grandes problemas a temperaturas mais elevadas.
Peixe indicado apenas para aquários públicos. Existe apenas uma única espécie vivente, com as seguintes características:
Nome Científico
|
Tamanho
|
pH/Dureza
|
Ambiente
|
Clima
|
Distribuição
|
Amia calva
|
110 cm
|
6,0 – 8,0
Indiferente |
Demersal
Água-doce |
Temperado
15º – 20ºC |
América do Norte:
Rio St. Lawrence, Lago Champlain, drenagens de Quebec e Vermont, Sudeste de Ontário e até Mississipi
|
Espátulas (Polyodontidae)
São considerados dos peixes mais antigos da atualidade, com registos fósseis que datam de há 300 a 400 milhões de anos atrás.
Existem apenas dois gêneros e duas espécies distribuídos na China e Estados Unidos. Possuem focinho similar a uma espátula, que pode chegar a medir 1/3 de seu comprimento total, barbatana caudal bifurcada e corpo sem escamas. Apesar do seu tamanho assustador (podem chegar aos 3 metros), são peixes filtradores possuindo lamelas com inúmeros filamentos dentro da sua boca, tendo a função de capturar zooplâncton e outros micro-organismos da água.
As espécies encontradas são o peixe espátula do Mississípi (Polyodon spathula), encontrado no Rio Mississípi, que possui o focinho similar a uma espátula, e o peixe espátula chinês (Psephurus gladius), que possui focinho em forma de cone, encontrado no Rio Amarelo.
São peixes adaptados a grandes rios de água doce, embora possam ser encontrados em lagos ou águas negras, procurando águas profundas e ambientes lênticos. Percorrem grandes distâncias e recentemente verificou-se que podem nadar cerca de 2.000 milhas ou mais para a época de reprodução.
Estão ameaçados de extinção devido à pesca e às barragens que alteram o curso dos rios, criando condições adversas à migração e reprodução. Possuem semelhanças com os tubarões, como o esqueleto primário composto de cartilagem.
A criação em cativeiro destas espécies acontece principalmente em grandes aquários públicos. As duas únicas espécies viventes, apresentam as seguintes características:
Nome Científico
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Tamanho
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pH/Dureza
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Ambiente
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Clima
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Distribuição
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Polyodon
spathula |
220 cm
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Indiferente
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Demersal, Potamódromos
Água doce |
Sub-tropical
25º – 30ºC |
América do Norte: Sistemas do Rio Mississipi, incuindo Rio Missouri e Rio Ohio
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Psephurus
gladius |
300 cm
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Indiferente
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Demersal, Potamódromos
Água doce |
Temperado
10º – 20ºC |
Ásia: Endémico do Rio
Yangtze (China) |
Aruanãs (Osteoglossiformes)
Aruanãs, ou em inglês Arowanas, pertencem à família Osteoglossidae (língua óssea). Até recentemente, eram considerados da mesma família do Pirarucu. Registos antigos indicam que as espécies desta família surgiram no período terciário.
Possuem corpo alongado e fino, escamas grandes, nadadeira dorsal e anal situadas na parte posterior do corpo e dois barbilhos em frente à boca que possui fenda oblíqua. Em geral, atingem cerca de 100 cm, variando de espécie para espécie, podendo pesar perto de 5 Kg. Podem obter oxigênio diretamente da superfície por sucção, através da vesícula natatória, o que lhes permite viver em ambientes com baixos níveis de oxigênio dissolvido na água.
Atualmente, estão descritas 8 espécies, sendo duas sul-americanas (Osteoglossum bicirrhosum e Osteoglossum bicirrhosum), quatro asiáticas (Scleropages aureus, Scleropages formosus, Scleropages legendrei e Scleropages macrocephalus) e duas australianas (Scleropages jardinii e Scleropages leichardti).
São peixes carnívoros, alimentando-se de praticamente tudo que lhes couber na boca (ou mesmo o que não couber…!). São excelentes saltadores, podendo saltar até dois metros para capturar uma presa, capacidade à qual se deve o seu apelido no Brasil de peixe macaco. A conjugação dessa capacidade com a sua boca voltada para cima permite-lhes obter uma dieta bastante diversificada, desde insectos e pequenos peixes até, em alguns casos, morcegos e aves de pequeno porte.
São incubadores bucais e os progenitores podem carregar centenas de ovos na boca. Enquanto juvenis em fase de desenvolvimento, permanecem sempre próximo da boca dos progenitores e ao menor sinal de perigo são “sugados” para dentro da boca do progenitor, podendo ficar aí refugiados durante horas. Demoram algum tempo a atingir a maturidade sexual e é raro conseguir a reprodução em cativeiro destas espécies, embora existam casos de sucesso em grandes lagos ao ar livre.
O comportamento das Aruanãs no geral é pacífico (exceto nas espécies australianas), sendo indicado mantê-las com peixes maiores e também pacíficos como alguns ciclídeos, peixes de fundo e outros primitivos. Espécies australianas devem ser mantidas isoladas em aquário uma vez que costumam ser bastante agressivas entre si e até mesmo com outras espécies de peixes.
Estes peixes têm ganho popularidade como peixe ornamental, revelando-se um belo animal e bastante inteligente. Na Ásia são bastante populares e conhecidos como peixe-dragão, por possuírem alguma semelhança com o dragão chinês (grandes barbilhos, escamas metálicas e grandes nadadeiras peitorais), que é símbolo de boa sorte e prosperidade.
Existe divergência acerca da origem das espécies asiáticas e australianas; estudos indicam que as espécies asiáticas divergiram das espécies australianas, durante o período Cretáceo Inferior, apresentando poucas mudanças evolutivas. Existem ainda algumas confusões na classificação das espécies asiáticas: recentemente foi inserida mais uma espécie.
Alguns investigadores contestam esta reclassificação, argumentado que os dados publicados foram insuficientes para reconhecer mais uma espécie asiática. Uma curiosidade destas espécies é que são os únicos peixes dulciaquícolas encontrados em todos os principais continentes.
Nome Científico
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Tamanho
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pH/Dureza
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Ambiente
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Clima
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Distribuição
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Scleropages
formosus |
90 cm
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6,0 – 7,0
Mole/Média |
Bentopelágico Água doce
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Tropical
24º – 28ºC |
Ásia:
Myanmar ao Sul da Península Malaia, Indonésia, Tailândia
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Scleropages jardinii
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100 cm
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6,0 – 8,0
Média |
Bentopelágico Água doce
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Tropical
24º – 30ºC |
Ásia e Oceânia:
Norte da Austrália e Centro Sul da Nova Guiné
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Osteoglossum ferreirai
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100 cm
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5,0 – 7,0
Mole |
Bentopelágico Água doce
|
Tropical
24º – 30ºC |
América do Sul:
Bacia do Rio Negro |
Osteoglossum bicirrhosum
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120 cm
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5,0 – 7,0
Mole |
Bentopelágico Água doce
|
Tropical
24º – 30ºC |
América do Sul:
Bacia do Rio Amazonas e Rio Rupuni e Oiapoque
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Scleropages
leichardti |
100 cm
|
6,0 – 8,0
Média |
Bentopelágico Água doce
|
Tropical
24º – 30ºC |
Oceânia:
Rio Fitzroy e oriental do Queensland
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Manutenção de primitivos em aquário
O aquário para manter peixes primitivos poderá variar muito, desde o tamanho ao tipo de substrato, filtragem, fluxo e alimentação das espécies. Em geral, os primitivos podem ser bentopelágicos, demersais ou potamódromos, consoante a espécie, sendo encontrados, na maioria, em ambientes de água doce e algumas espécies em regiões estuarinas.
Tendo em consideração que a grande maioria atinge tamanhos consideráveis, quanto maior a capacidade do aquário melhor .Em alguns casos, as espécies não devem sequer ser mantidas em aquário, seja pelo seu grande porte ou pela exigência alimentar, como o Arapaima gigas (pirarucu), peixes espátulas, amia e gars como o Atractosteus spatula (gar crocodilo), Lepisosteus osseus (gar nariz longo) e Atractosteus tristoechus (gar cubano) e o peixe pulmonado Protopterus aethiopicus (lungfish mármore). Aquários públicos ou lagos de médio a grande porte são mais indicados para a saudável manutenção destas espécies em cativeiro.
Para peixes que chegam próximo dos 100 cm o tamanho mínimo do aquário será à volta de 250X70X60 (CxLxA). Para peixes com 50 cm ou mais será indicado 200X60X60 e para os menores, que não ultrapassem 30-40 cm, 150X50X50. Note que as dimensões indicadas são apenas uma base mínima para a manutenção destes peixes; quanto maior o aquário melhor e mais fácil atingir sua estabilidade e mantê-la.
A filtragem deverá ser eficiente e ao mesmo tempo não possuir um fluxo forte na coluna de água, algo pouco apreciado pelos primitivos (principalmente quando juvenis), por isso, neste caso, esqueça a velha regra fluxo vs litragem final do aquário. Os tipos de filtros mais eficientes são os bem dimensionados na filtragem mecânica e biológica, como sumps, dry-wet e canisters. O canister é o que apresenta maior desvantagem, uma vez que os seus tubos deixam fendas entre o vidro do aquário e as tampas o que se pode tornar a porta de saída final de seus peixes, excepto se o aquariofilista mandar cortar e adaptar a tampa de acordo com a necessidade. Utiliza sempre tampas de vidro pesadas ou similares. A manutenção do filtro também é importante, já que os primitivos sujam bem a água. Lembre-se que um filtro sem manutenção não funciona, será um depósito de lixo somente.
O substrato também poderá variar de acordo com a espécie desejada. Para peixes demersais (peixes que possuem capacidade de locomoção, mas vivem a maior parte do tempo associados ao substrato) como os dipnóicos e bichirs , deverá usar areia fina ou cascalho, sem pontas, de granulometria pequena (nº00) e para os peixes pelágicos (que vivem livremente na coluna de água) ou mesmo os demersais que ficam a meia água ou mesmo à superfície, como os gars e aruanãs, a escolha pode ser indiferente, optando sempre por cascalho neutro e o mais natural possível, nada de pedrinhas coloridas e afins.
A iluminação deverá ser moderada, independente da espécie escolhida. Importa frisar que, principalmente dipnóicos, não se sentem confortáveis quando expostos a iluminação excessiva. Em geral 0,3 a 0,5 W/L é o recomendado. Os kelvins das lâmpadas, assim como seu fluxo luminoso poderá variar, de acordo com o gosto do aquariofilista. Há quem prefira usar lâmpadas actínicas (azul) ou misturando lâmpadas próprias (vermelho) para seres autotróficos com tubos fluorescentes 6.500K (luz do dia).
Objetos de decoração poderão ser utilizados, variando desde troncos e pedras a plantas resistentes. Para peixes como bichirs e dipnóicos, crie bastantes refúgios com troncos e pedras rente ao substrato, pois são peixes que passam boa parte do tempo escondidos, sobretudo no período diurno.
Peixes que frequentam meia água ou a superfície, como gars e aruanãs, quanto mais “limpo” o aquário melhor, deixando uma grande área livre para nadarem. Mas ainda assim, se criar gars e aruanãs e não quiser dispensar alguma decoração, certifique-se que os adornos não ultrapassam mais da metade da altura do aquário, deixando livre a área frequentada por estes peixes.
Para “enfeites” de gosto duvidoso, como barcos, caveiras e mergulhadores soltando bolhas, entre outros similares, descarte! Crie um ambiente o mais natural possível para os seus peixes, é visualmente mais agradável de se ver e ajuda a ecologia do aquário.
A química da água deverá ser respeitada de acordo com a espécie escolhida. Embora sejam peixes bastante resistentes, que toleram diferentes condições ambientais, podem sucumbir face a adversidades ou se expostos a um ambiente que não adaptado às suas exigências (pH, dureza e compostos nitrogenados). Algumas espécies habitam águas mais frias (ex. gars), mas podem adaptar-se sem problemas de maior a temperaturas mais tropicais (24º a 28ºC).
Conclusão final
Se optou por criar peixes primitivos, seja bem-vindo a um grupo seleto de aquariofilistas que criam estas verdadeiras preciosidades, que mantêm as suas características e estruturas praticamente inalteradas ao longo de milhões de anos, mesmo com inúmeras adversidades através dos tempos.
São peixes extremamente exóticos e inteligentes (em especial as aruanãs) que interagem com o aquariofilista de forma muito harmoniosa e, por isso, eduque-se no sentido de dar o melhor de si para uma manutenção saudável dos seus peixes. Eles merecem!
Num próximo artigo falarei sobre outras espécies de peixes primitivos que estão cada vez mais comuns em nossos aquários, as Arraias de água doce.
Artigo bem informativo, gostei muito parabéns!
achei espetacular essa matéria sobre peixes primitivos vcs estão de parabéns sou aquarista a 20 anos crio atualmente paraísos e um casal de acara do congo leucistico .
Adorei a matéria, apenas uma dúvida lepsosteus não se importa com água bem agitada na superfície, pois meu aquário de 700 litros possui uma bomba de 9000 litros.