No ano de 1817, dois alemães, Johann Baptist von Spix e Carl Friederich von Martius, e um grupo de outros cientistas, chegaram ao Brasil. Fazia parte a Arquiduquesa Leopoldina Carolina Josefa da Áustria, vinda ao Brasil para casar-se com o príncipe Dom Pedro de Alcântara. Com o apoio da Corôa, Spix e Martius viajaram pelo interior do Brasil e no rio Amazonas por cerca de 2 anos e 11 meses. Spix desenhou uma série de pranchas coloridas dos peixes coletados, mas morreu antes de completar o texto. Louis Agassiz, então com 21 anos, deu continuidade a obra, e projetou-o como biologista.
Na segunda metade do século XIX, a teoria da evolução por Darwin, começou a exercer uma profunda influência nos estados de história natural. Embora suas implicações pouco tenham influenciado alguns ictiólogos, houve uma mudança. Começou a haver um interesse crescente em história natural. Os ictiólogos, em particular, começaram a perceber que havia um número elevado de pequenas espécies a serem descritas na América do Sul. Antes deste período, excetuando-se talvez os trabalhos de Cuvier e Agassiz, a maioria dos trabalhos descritivos sobre peixes sul-americanos poderia ser considerada como curiosidade de história natural. Subseqüentemente à proposição da teoria da evolução a história natural e sistemática biológica começaram a ser encaradas como uma forma de testar a teoria. Tal fato levou muitos ictiólogos a olhar mais atentamente para os temas de seus estudos e se interessar não somente pelos grandes peixes comestíveis de interesse econômico.
O segundo período de descobertas ictiológicas da América do sul começou no período de 1865-1866, quando Louis Agassiz, então na Universidade de Harvard, liberou a Expedição, Thayer (apoiada financeiramente por Nathaniel Thayer) às partes médias e inferior da Bacia Amazônica e ao leste do Brasil. Esta foi a primeira expedição com o objetivo principal de coletar peixes e determinar novos rumos para o estudo dos peixes sul-americanos. Um novo centro de estudos se formou na América do norte, pois até então o estudo da ictiologia tinha como centro principal a Europa. Agassiz foi o primeiro investigador a reconhecer de modo a imensa variedade de espécies de pequeno porte existente na Bacia Amazônica. Contribuiu também para mudança de curso da ictiologia, quando persuadiu Franz Steindachner do museu de Viena, a dirigir-se a Havard, em, 1871, por dois anos e meio, a fim de trabalhar os peixes da coleção Thayer.
Steindachner acompanhou a Expedição Hassler ao sul do Brasil, obteve material para o museu de Viena e fez contatos locais com algumas pessoas que mais tarde lhe enviariam coleções. Quando do seu regresso a Viena, Steindachner levou duplicatas da maior parte da coleção Thayer.
A partir desta data, até 1917, publicou uma longa série de trabalhos, descrevendo novas espécies de peixes sul-americanos e assinalando muitas outras espécies em diversas localidades (Duncker, 1914, publicou um índice de vários trabalhos de Steindachner). Felizmente, mais do que qualquer outro ictiólogo de sua época, Steindachner pareceu reconhecer a importância de descrições mais completas e acuradas possíveis.
O catálogo que pretendia incluir todos os peixes conhecidos de sua época, Albert Günther do Museu Britânico, publicou entre 1859 e 1870 descrições sumárias dos peixes de água doce sul-americanos. Neste trabalho, Günther descreveu como novas todas as espécies do Museu Britânico que foi capaz de identificar por meio de descrições prévias. Entre 1887 e 1911, Albert Boulenger, também do Museu Britânico, publicou uma pequena série de trabalhos faunísticos sobre peixes de água doce sul-americanos, descrevendo várias espécies novas.
Em 1888, Carl Eigenmann, da Universidade de Indiana, iniciou sua ambiciosa e produtiva carreira, que iria durar cerca de 40 anos, estudando e coletando peixes de água doce da América do sul. Entre todos os que estudaram sul-americanos é, sem dúvidas, o mais importante. Sob sua orientação, e muitas vezes com sua participação, foram feitas as mais importantes coleções de peixes da América do sul, bem como os estudos faunísticos e as revisões mais completas dos diversos grupos de peixes de água doce sul-americanos. Sua primeira grande contribuição, a revisão do bagres sul-americanos, foi publicada em colaboração com sua esposa, Rosa Smith Eigenmann, em 1890 e se baseou principalmente nas coleções de Thayer.
Em 1908, Eigenmann fez sua primeira viagem à América do sul. Passou a maior parte do ano coletando na Guyana (Guiana Inglesa). As grandes coleções resultantes constituíram a base principal de sua volumosa monografia faunística “Fresh-Water Fishes of Britsh Guiana” (1912). Publicou também em 1910 o “Catalogue of the Fresh-Water Fishes of Tropical ans Temperate South America” e relacionou 1917 espécies (782 a mais que as de seu catálogo de 1891). Estas listas incluíam também os peixes de água doce da América central. Eigenmann e vários de seus colaboradores fizeram importantes coleções. Há ainda partes consideráveis destas coleções que nunca foram trabalhadas. Tais coleções, entretanto, devem ser estudadas em conjunto com o material recente de áreas geográficas adjacentes.
Eigenmann (1917-1929) também publicou revisões de alguns grupos de bagres (Trichomycteridae e Doradidae, e de certos caracídeos Serrasalminae) e uma grande monografia em cinco partes sobre Tetragonopterinae e outros grupos de caracídeos; a última parte foi publicada após sua morte, tendo George S. Myer como co-autor. A última contribuição de Eigenmann consta de um volumoso relato faunístico, “The Fishes of Western South-American” (1942) publicada em co-autoria com William Ray Allen e tendo como base as coleções feitas por Allen em 1920 no leste do Peru.
No período compreendido entre 1904 e 1914, C. Tate Regan, no Museu Britânico, escreveu uma série de curtos trabalhos faunísticos, mas também importantes revisões de ciclídeos, poecilídeos e lorícarideos neotropicais. Ainda durante esta época, no Rio de Janeiro, Alípio de Miranda Ribeiro publicou uma importante revisão de bagres brasileiros (1911) e numerosos outros trabalhos sobre caracídeos e ciclídeos brasileiros.
Do início do século XX até aproximadamente 1950, Henry W. Fowler, da Academy of Natural Sciences, Filadélfia, publicou uma série de trabalhos faunísticos sobre peixes de água doce da América do sul. Seu trabalho mais útil, “Os peixes de água doce do Brasil” foi publicado em quatro partes, de 1948 a 1954. A obra de Fowler apresenta o mesmo estilo dos estudos pré-1930 e está longe dos padrões estabelecidos por Steindachner e Eigenmann.
Muitos dos ictiólogos que eventualmente poderiam se interessar por peixes sul-americanos voltaram para os peixes norte-americanos. Assim, o terceiro período da história da ictiologia na América do sul caracterizou-se por uma mistura de tendências. Alguns ictiólogos tem tentado fazer revisões de grupos de peixes afins usando novos conceitos, ou têm tentado atualizar o que se conhece dos peixes sul-americanos. Outros tem continuado a descrever espécies segundo a tradição de Eigenmann.
George S. Myers, da Standford University, aluno e colega de Eigenmann, publicou numerosos trabalhos sobre peixes de água doce sul-americanos (os trabalhos publicados por Myers de 1920 a 1969 foram listados por Anônimo, 1970).
Vários discípulos de Myers, entre os quais William Gosline, James E. Bönlke, Stanley H. Weitzman e Tyson R. Roberts, continuaram publicando alguns trabalhos faunísticos e um certo número de revisões e estudos filogenéticos, especialmente sobre Characiformes e Siluriformes.
Leonard P. Shultz da Smithsoniam Institution, coletou peixes na Bacia de Maracaibo, Venezuela, em 1942, e publicou três importantes trabalhos faunísticos baseados em suas coleções: sobre Siluriformes (1944 a), sobreCharacoidei (1944 b) e sobre Gymnotoidei e peixes pertencentes a outros grupos (1949).
Desde 1940 George Dahl tem publicado artigos sobre peixes da Colômbia e sua maior contribuição consiste em um trabalho que engloba os peixes do nordeste da Colômbia (1971).
Augustin Fernandes Yépes, a partir de 1948, publicou um certo número de trabalhos contendo a descrição de peixes da Venezuela. De 1940 à 1950, Paulo Miranda Ribeiro, e a partir da década de 40 até 1977 Haroldo Travassos, ambos do Museu Nacional do Rio de Janeiro, publicam uma série de trabalhos, principalmente sobre os peixes de água doce do sudeste do Brasil.
Biólogos brasileiros do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade do Rio de Janeiro (UFRJ), Laboratório de Ictiologia, Museu de Ciências e Tecnologia – (PUCRS) entre outros através dos anos vem estudando e publicando séries de trabalhos nas áreas de Sistemática, Biogeografia, e Filogenia.
Nas últimas duas décadas teve um acréscimo significativo de informações sobre parte dos componentes desta fauna. Muitas questões no entanto, permanecem não resolvidas em todos os níveis taxonômicos para muitos grupos de peixes de água doce neotropicais (Vari & Malabarba, 1998).
Desde 1900 até o presente, um grande número de pequenos peixes de água doce têm sido exportados por aquariofilistas para a Europa e Estados Unidos. Nessas remessas muitas vezes estão incluídas novas espécies e ictiólogos-aquaristas, tem descritos algumas destas espécies na literatura aquariófila e também na zoológica.
Bibliografia:
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Bönlke, J. E. Weitzman, S. H. & Menezes, N. A. estado atual da sistemática dos peixes de água doce da América do sul. Acta Amazônica 8 (4):657-677. 1978
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