Por Rosana Ferreira (Novembro/2016)
O Aparelho digestório dos peixes sofre alterações morfológicas que estão relacionadas à dieta e ao meio ambiente no qual vivem.
Como exploram vários ambientes, a maioria das espécies é generalista, mesmo porque uma dieta altamente especializada se tornaria uma desvantagem, visto que alterações no meio ambiente podem colocar em cheque o fornecimento alimentar específico. Desta forma, mesmo as espécies com tais dietas, podem adaptar-se a outros alimentos que estejam disponíveis mais regularmente, caso seja necessário.
Apesar da grande diversidade das estruturas de alimentação, os peixes podem ser classificados em 3 grandes grupos, no tocante a dieta:
Herbívoros: Dieta composta de itens de origem vegetal, possuindo um aparato de mastigação apropriado para dilacerar essas estruturas e retirar delas o máximo em valor nutricional. Ex: Tilápia rendali
Onívoros: Dieta composta de itens de origem animal e vegetal, possuindo estruturas de mastigação pouco especializadas. Consomem frutas, pequenos insetos e invertebrados. Ex: Carpa comum
Carnívoros: Dieta composta de itens de origem animal, incluindo invertebrados de maior porte e pequenos peixes. Ex. Traíra
Há ainda outras espécies que se alimentam de detritos, plâncton e lodo e não podem ser facilmente classificadas nestes três grandes grupos.
Boca
Possui formatos e posições diferentes, dependendo da dieta (ex, Cascudo – peixe de fundo, boca na região ventral). Não há glândulas salivares, mas há botões gustativos que são ativados por substâncias solúveis na água. Possuem uma língua rudimentar, dura e imóvel, alguns, a exemplo do Pirarucu, possuem uma língua óssea.
Possuem uma ampla variedade de dentes e estruturas associadas. A maioria dos carnívoros possui dentes pequenos e fortemente inseridos nos ossos da cabeça ou maxilar, pois precisam segurar suas presas (ex: Cachorra, Dourado). Peixes adaptados a outros tipos de dieta apresentam dentes faringianos, mas alguns herbívoros possuem dentes mandibulares incisivos, com a função de cortar plantas macrófitas.
Esôfago
De difícil identificação, pois é pouco definido, tem a função de conduzir o alimento da boca para o estômago ou intestino. Algumas espécies não possuem estômago, como é o caso dos kinguios e nestes o esôfago se comunica com a vesícula gasosa (bexiga natatória), desempenhando outras funções, como a liberação de gases da vesícula, desta forma, o peixe controla sua posição na coluna d’água., bem como ajudar na osmorregulação, no caso de peixes que transitam em águas de diferentes salinidades.
Essa comunicação, feita pela estrutura conhecida como ducto pneumático, pode causar transtornos de equilíbrio na natação, caso o ducto se entupa com alimento, já que a troca gasosa fica prejudicada e o peixe perde o controle da vesícula.
A musculatura do esôfago tende a ser mais desenvolvida em peixes de água doce do que nos de água salgada, já que nos primeiros, evitam a entrada de água em excesso no momento da ingestão dos alimentos.
Estômago
O estômago possui a função de armazenar temporariamente, triturar e iniciar a digestão propriamente dita. Seu tamanho está relacionado ao tamanho do alimento ingerido e ao intervalo entre as refeições. Nele, ocorre a secreção de muco e suco gástrico.
Nos carnívoros, o estômago é maior, pois geralmente se alimentam com menos freqüência, mas com maior volume, possuindo paredes muito elásticas a fim de acomodar as presas ingeridas. O estômago de onívoros e herbívoros é menor, uma vez que estes fazem várias refeições de menor volume ao longo do dia.
Intestino
O processo de digestão iniciado no estômago termina aqui. O intestino é fortemente vascularizado e repleto de glândulas digestivas. A maior parte da água, íons e nutrientes provenientes da dieta são absorvidas neste órgão. Pode também auxiliar na respiração e osmorregulação.
Uma das características do intestino dos peixes é a presença de dois segmentos, embora não sejam nitidamente delimitados. A primeira porção possui a função de absorção de nutrientes menores (monossacarídeos, aminoácidos e ácidos graxos) e a segunda, entrada de macromoléculas. O comprimento e a forma do intestino também estão relacionados com a dieta. Carnívoros possuem intestino curto, reto e espesso; onívoros o apresentam em forma de N; finalmente, nos herbívoros se apresenta longo, fino e enovelado, garantindo assim um maior tempo de ação das enzimas digestivas, para que os nutrientes sejam devidamente absorvidos.
O comprimento parece estar mais relacionado à quantidade de matéria indigerível do que propriamente a natureza do alimento, uma vez que herbívoros e planctófagos ingerem muito mais alimentos de baixa digestibilidade.
Quando um alimento de pouco valor energético é oferecido ao peixe, a resposta imediata é um aumento no consumo, para suprir a falta de nutrientes. No entanto, foi observado em algumas espécies, que o enchimento estomacal pode ser determinado pelo peso do alimento, uma vez que influencia na flutuabilidade.
Também possuem pâncreas, fígado e vesícula biliar, que são auxiliares do processo digestivo.
O tempo de esvaziamento gástrico está relacionado com a digestibilidade do alimento e também com o tamanho do peixe. Carnívoros em geral o fazem em 6 a 11 horas, já herbívoros podem levar o dobro desse tempo. Em pós-larvas o tempo observado para esse processo ficou entre 2 a 9 horas, indicando que a alimentação deve ser fornecida com mais freqüência.
Se ocorrer aumento da temperatura, e, portanto, aumento do metabolismo, a taxa de passagem do alimento pelo trato digestivo pode dobrar, com um aumento de 10°C.
Em certas condições os peixes podem promover a parada da peristalsia, chamado estase, que é quando o trânsito alimentar cessa. Esse processo pode ser engatilhado por estresse, baixa temperatura e no transporte, nesse último caso, é indicado o jejum de 24 a 48 horas antes do manejo. Quando o gatilho é a baixa temperatura, é recomendada a diminuição da oferta de alimento, a fim de minimizar que ele se deteriore no trato digestivo dos peixes.
A permanência do bolo alimentar no intestino é causa de patologias, pois esses patógenos podem penetrar na parede do intestino ajudadas pela própria ação das enzimas digestivas.
Pesquisas apontam ainda que hormônios tireoidianos também influenciam no processo digestivo, aumentando a taxa de absorção de alguns nutrientes e que hormônios esteróides podem tanto aumentar ou diminuir o apetite dos peixes, pois provocam oscilações de nutrientes no plasma.
Bibliografia consultada
- Rotta, Marco Aurélio. Aspectos gerais da fisiologia e estrutura do sistema digestivo dos peixes relacionados à piscicultura / Marco Aurélio Rotta. – Corumbá: Embrapa Pantanal, 2003.
- Bio Wiki – Dicionário Virtual de Biologia – Internet
- Chacon, DMM & Luchiari, AC. 2011. Fisiologia e Comportamento de Peixes. Texto publicado no site do Grupo de Estudos de Ecologia e Fisiologia de Animais Aquáticos (www.geefaa.com).
Incrível, parabéns pela matéria.