Predação social é um comportamento em que os animais criam ataques coordenados para capturar as suas presas e beneficiar todos de um grupo.
Apesar de ser visto em mamíferos como lobos, golfinhos, entre outros, é algo raro em peixes e foi registrado pela primeira vez nos peixes-elétricos também chamados de poraquês.
Os pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus (AM), e da Smithsonian Institution (EUA), observaram esse comportamento em um lago da Estação Ecológica Terra do Meio (PA).
O registro aconteceu com em um grupo com cerca de 100 indivíduos da Electrophorus voltai, que é conhecida por caçar solitariamente à noite, cada um com até 1,8 m e que podem dar descargas elétricas de até 860 volts.
“O registro”
Ao amanhecer e no final de tarde, os poraquês migram para uma parte mais rasa do lago, cercando cardumes de pequenos peixes (piabas ou lambaris).
Em seguida, emitem fortes descargas elétricas e as presas saltam para fora e são devoradas quando voltam atordoadas para a água. Esse comportamento nunca havia sido registrado em mais de 250 anos – desde quando esse animal foi descrito pela primeira vez
Segundo o Naércio Menezes do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ-USP), a hipótese é de que locais como esse, com abundância de presas e abrigo para poraquês, favoreçam a caça em grupo e o desenvolvimento da estratégia de predação social.
“É possível que o fenômeno ocorra em outros locais e até mesmo com outras espécies de poraquê. Só não foi registrado ainda”, explica Santana
Agora, os pesquisadores trabalham na criação de uma plataforma on-line, nomeada Projeto Poraquê, em que moradores dos nove países da Amazônia possam submeter vídeos de outros casos de predação social por poraquês.
Curiosidade sobre o ataque
Os poraquês nadam em círculos em volta de um cardume, concentrando o maior número possível de piabas. Aos poucos, pequenos subgrupos de dois a dez indivíduos separam parte do cardume e conduzem as presas para a margem.
Então, um ou mais poraquês desse subgrupo disparam uma forte descarga elétrica, fazendo com que as piabas saltem, atordoadas pelo choque.
Quando disparados simultaneamente por dez indivíduos, esses choques podem gerar uma descarga de 8.600 volts, segundo Santana.
Os peixes-elétricos então abrem a boca e engolem o máximo de presas que conseguem. Outras espécies de peixes carnívoros, como o tucunaré, podem se aproveitar das presas atordoadas.
Após cinco a sete ataques em uma hora, o grupo inteiro retorna para o fundo do lago.
O estudo continua
Agora, os pesquisadores vão implantar um pequeno transmissor sob a pele de alguns animais para monitorar, a movimentação do peixe-elétrico e determinar padrões e possíveis hierarquias dentro do grupo.
A ideia é também medir a potência das descargas elétricas para saber a voltagem daquelas disparadas para atordoar as piabas, e se há também emissão de descargas fracas usadas para se comunicar, ou seja, possibilitando saber se os animais se comunicam para coordenar os ataques.
Por fim, haverá uma coleta de amostras genéticas para verificar se os indivíduos são parentes ou não, pois entre os mamíferos que caçam em conjunto, é comum que sejam irmãos liderados por um genitor mais velho.
Publicado em Fevereiro de 2021
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