Uma pesquisa realizada por estudiosos de 11 instituições brasileiras e publicado na revista científica Aquatic Ecology apontou que uma espécie invasora de água doce está conseguindo se adaptar a ambientes salobros. O animal em questão é a tilápia, o peixe mais consumido no país.
De acordo com a publicação, que reúne uma série de registros sobre o assunto, o bicho de origem africana está invadindo os mares no Brasil. Segundo a líder do estudo, Ana Clara Sampaio Franco, da Universidade de Girona na Espanha, observações na costa fluminense serviram como o pontapé inicial para a investigação.
“Surgiram vídeos na internet feitos na região de Arraial do Cabo, no Rio de Janeiro, que mostravam a presença de cardumes de tilápias no mar. Essa é uma região de água muito fria e salina, que sofre a influência de uma corrente oceânica que é profunda e que aflora na costa”, disse a ecóloga ao g1.
O trabalho se deu por mais de um ano. “Nós temos registros que vão desde o Maranhão, até Santa Catarina. Passando por Espírito Santo, São Paulo e pelo Rio de Janeiro. Detectamos que esses casos não eram isolados, o que consideramos preocupante”, explicou Ana Clara.
As equipes chegaram a algumas conclusões sobre como a tilápia pode ter ido parar em um ambiente diferente do seu habitat natural. “As estruturas de criação não são imunes a falhas; por isso, acontecem escapes. Há também descartes de aquicultores equivocados, que soltam essa espécie exótica invasora nos rios”, afirmou a entrevistada.
ESPÉCIE INVASORA
A explicação por trás da adaptação seria explicada pelo fato de que a espécie em questão pertence à família dos ciclídeos, a qual o tucunaré da Amazônia – um dos últimos grupos marinhos a migrarem para a água doce – também faz parte.
“Os ancestrais da tilápia vieram do mar, por isso, a espécie tem capacidade de tolerar algum grau de salinidade”, esclareceu o coordenador da pesquisa, Jean Vitule, do Laboratório de Ecologia e Conservação da Universidade Federal do Paraná.
“A tilápia é uma invasora que pode transferir patógenos e elevar as taxas de eutrofização – surgimento excessivo de organismos como algas e cianobactérias. Ela também compete com espécies nativas por recursos, por alimentos e espaço. A tilápia é um bicho territorialista. Ela pode predar vários organismos, desde peixinhos até camarões, crustáceos e corais. Em último estágio, ela pode causar até a extinção de algumas espécies”, alertou Vitule.
Outra preocupação apontada pelo estudo é a criação de tilápias em água salobra em alguns lugares do mundo, o que traria riscos para os ecossistemas marinhos. O estudo também fez um alerta sobre a necessidade de um controle mais rigoroso sobre a criação de peixes no Brasil.
Fonte: Diário do Nordeste
Publicado em Outubro/2023
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